domingo, 15 de julho de 2012

Carvão, solidão e cinzas.


Alho socado, pimenta do reino, cheiro-verde, manjericão, e limão rosa. O frango foi temperado, não era o caipira criado solto no meio do milharal e sim comprado no supermercado, embalado e congelado; no entanto o mais importante naquele dia seria a tradição da família.
Farinha de mandioca, ovos, toucinho defumado, cebola, linguiça, azeite dendê e miúdos da ave, acompanhariam o assado à mesa.
O forno já não era de barro, aquecido com as brasas dos tocos de árvore, e sim, à base do combustível  comprimido no botijão, todavia, a cozinheira pretendia manter a tradição em mais um domingo de maio.
A simbólica data jamais deixou de ser comemorada com mesa farta lá no topo do morro Paranapiacaba. 
A música a tocar trazia nostalgia a pequena cozinha, da casa nova na cidade, comprada em plano de trezentos meses. A moradia em nada se parecia com aquela feita de madeira e tão espaçosa lá no alto da serra.
O rádio também já não era o mesmo, aquele de pilhas ficou jogado na lama do banhado. Pois a moderna moradia possuía energia elétrica, porém a mulher olhou pela janela e não conteve a emoção ao lembrar do lampião, fogão a lenha, e galinhas cacarejando a procura de insetos para os pintinhos no quintal.
Belas lembranças, triste realidade. O cheiro de gás interrompeu os pensamentos da solitária senhora. A farofa virou cinzas e o suculento prato, carvão. A baiana chorou, não pela dor das queimaduras nas mãos, mas sim pela ausência dos filhos dispersos em compromissos diversos.
Não só habitação e utensílios eram outros, os hábitos também mudaram. A numerosa família quebrava a tradição passada de pai para filhos.
Falamos não das mães dos reclames comerciais, e sim, das donas ninhas espalhadas pelo mundo, estas não são virtuais, são de carne, osso, sofrimento e muito amor. 
Tanta falta, elas nos fazem.



O segundo domingo de maio é muito triste
 aquele que tiver duvidas deve 
deixar o órfão opinar...



Autor: Neusir Índio.


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